
“Después de la revolución? Nos jodimos todos!” me disse um dos ex-combatentes da revolução do bairro de Villa Consuelo, que conheci em 2019. Na frase daquele senhor parecia residir uma versão não-oficial dos acontecimentos, própria da região de Santo Domingo de onde vinha este homem, mais afastada da Zona Colonial. Era o dia da comemoração dos 54 anos da revolução iniciada em 24 de abril de 1965. Dias antes, caminhando com outro senhor no bairro de San Carlos, que está colado às ruínas do muro que protegia a antiga cidade colonial, escutei-o dizer que “Todo eso era guerra”. Apesar da assertividade de meu interlocutor, tive dificuldade de imaginar a ‘guerra’ de que ele falava, uma vez que a maior parte das imagens fotográficas da revolução mostram protestos e passeatas em lugares na Zona Colonial. Do mesmo modo, os principais relatos de jornalistas estrangeiros que acompanharam os acontecimentos in loco tampouco descreviam com detalhes os combates daquela área.
Ao longo do trabalho de campo que desenvolvi no ano de 2019, passei a compreender com maior clareza que “todo era guerra” na Santo Domingo de 1965. Essa pesquisa explorará questões e materiais que surgiram durante minha pesquisa de doutoramento, mas que não examinei em minha tese devido a seu foco temático. Nela investiguei como se produzem novos entendimentos sobre quem foram ex-combatentes/heróis da revolução, e as astúcias e estratégias de uma historiografia local para desvelar silenciamentos nas narrativas oficiais (Castillo de Macedo, 2021). Ao apresentar estes modos de fabricar as multiplicidades da revolução de 1965, observei projetos de historicidades e temporalidades que foram sufocadas pela justaposição de transformações políticas e econômicas da República Dominicana contemporânea.
Assim, além de apresentar um pouco sobre a cidade de Santo Domingo, quero trazer a importância da experiência revolucionária enquanto outra forma de espacialidade possível para se pensar essa metrópole caribenha. O que acontece depois da revolução é fundamental para entender também a importância dos trabalhos da Fundación de Solidaridad con los Héroes de Abril, a FUSHA. Essa conversa sobre espaço, vai se tornar, a medida que avançamos, uma discussão que também trata da conformação do capitalismo neste importante país caribenho.



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